Petrobras acelera engenharia, simplifica projetos e prepara nova onda de FPSOs
Petrobras acelera engenharia, simplifica projetos e prepara nova onda de FPSOs
Diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação destaca avanço do modelo “triplicante”, revitalização do pré-sal e fortalecimento da cadeia de fornecedores nacionais
À frente da diretoria de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras desde 2024, a matemática pela Unicamp Renata Baruzzi diz ter entre as suas metas de trabalho o resgate da indústria fornecedora, principalmente para o segmento de downstream. Como resultado do esforço, 3 mil trabalhadores já foram mobilizados na Rnest, projetos estão sendo antecipados e estaleiros ensaiam casamentos com pares chineses. O caso mais avançado é o da Ecovix, segundo ela.
“A gente sabe que não é de um dia para o outro. A gente não consegue colocar todas as nossas encomendas nos fornecedores locais, mas é do nosso maior interesse que eles se fortaleçam para que voltem a ser como eram no passado. Esse é o nosso grande desafio”, disse Baruzzi em entrevista à Brasil Energia.
A grande aposta da Petrobras atualmente, a Margem Equatorial, vai começar a render frutos ao mercado, com o início das encomendas, em 2027, de acordo com a diretora. A empresa recebeu no último dia 20 a licença do Ibama para perfurar o primeiro poço na região. Além disso, a partir do ano que vem, a Petrobras vai acelerar a revitalização do pré-sal, inclusive com encomendas de FPSOs.
Outra novidade vai ser o lançamento de um novo modelo de navios-plataformas “triplicantes”, como chamou Baruzzi. A ideia é, assim como a Petrobras fez com as replicantes no passado, construir unidades idênticas para atender a demanda de três projetos simultaneamente. Em algumas delas, a empresa vai reutilizar cascos de plataformas antigas, que vão ter o topside desmantelado.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
A Petrobras vem trabalhando para estimular a indústria nacional, especialmente com os estaleiros. Como você avalia esse caminho desde que assumiu a direção e qual a resposta dos fornecedores?
Minha primeira preocupação quando assumi a diretoria foi resgatar os fornecedores. A gente passou dez anos, principalmente na área de downstream, sem fazer grandes obras. A minha preocupação era que eu precisava ter fornecedores fortes. Mais do que fornecedores, parceiros, porque senão, não consigo colocar o plano estratégico de pé. A primeira coisa que fizemos foi conversar com eles. Fizemos eventos. Chamamos empresas de fora para fazer casamentos, para realmente ajudar no fortalecimento dessa indústria, principalmente, nesse momento geopolítico tão complicado que a gente está vivendo. É muito mais seguro para nós ter os fornecedores próximos. A gente sabe que não é de um dia para o outro. A gente não consegue colocar todas as nossas encomendas nos fornecedores locais, mas é do nosso maior interesse que eles se fortaleçam para que voltem a ser como eram no passado. Esse é o nosso grande desafio.
Obtiveram resultado?
A gente já está com alguns resultados grandes interessantes, como o bid de SEAP (Sergipe Águas Profundas). A gente está com quatro empresas que vão fazer propostas casadas com empresas brasileiras, porque o conteúdo local de SEAP é alto, de 30% e 40% (cada FPSO). Isso deixou a gente muito satisfeito, por ver as empresas voltando a trabalhar com a Petrobras. Mas eu sempre falo: tem que ser num nível competitivo com o mundo. A gente quer os fornecedores, mas a gente quer que sejam competitivos com o resto do mundo. E a gente está conseguindo. O downstream era a minha maior preocupação, mas a gente teve sucesso na Rnest, no (Complexo de Energias) Boaventura e estamos esperando, para o fim do ano, na UFN-III, a participação de três ou quatro empresas em cada pacote. Isso mostra que o mercado está respondendo nossa demanda. Mas também nós voltamos a conversar com as empresas. A gente conversou muito, porque eles não estavam vindo trabalhar com a gente, o que estava dificultando. Essa escuta ativa foi muito importante, porque a gente conseguiu adaptar alguns procedimentos. Conversando muito a gente conseguiu chegar mais próximo para que eles pudessem participar. Isso na área de construção e montagem, mas também na área de subsea. A gente contratou para o pré-sal o que a gente chama de EPCIs, que provêm toda engenharia, os dutos rígidos, as embarcações e instalação. A gente tinha, nos bids, uma empresa participando, os custos estavam lá em cima. A equipe de suprimento fez um trabalho excepcional com o mercado. No último bid, tivemos quatro empresas para Búzios 11. E a gente já viu o preço caindo. A gente está trabalhando em todas as frentes. Para dutos flexíveis, estamos trazendo novos entrantes, fomos no exterior buscar empresas para se instalarem no Brasil. A gente está com trabalho forte de fortalecer a indústria local, mas também com o objetivo nobre de ser bem atendido por empresas próximas.
No cenário geopolítico adverso, há a questão da China, um parceiro da Petrobras. As divergências entre o país e os Estados Unidos interferem nos negócios?
No momento, não estamos vendo nenhum problema, a menos que tenha alguma sanção mais forte, que proíba o relacionamento com alguma empresa chinesa. Mas, por enquanto, não vimos esse perigo no ar. A gente monitora, mas até agora isso não se materializou e não vemos a possibilidade de se materializar.
Como é o casamento de empresas estrangeiras com brasileiras para a construção dos FPSOs de SEAP que você citou?
São empresas brasileiras, algumas operadoras e outras são estaleiros. Inclusive, nós resgatamos estaleiros que estavam fechados. Está um movimento bem interessante.
Como está a performance do plano de negócios de 2025 a 2029, que está prestes a ser revisto?
A gente está super orgulhoso da nossa performance. A empresa estava subperformando em 30% o investimento. Neste ano, vamos fazer 100%, 102%. Ou seja, a Petrobras está conseguindo realizar o compromisso de investimento, inclusive antecipando alguns projetos. Por exemplo, o FPSO Almirante Tamandaré antecipou em três meses o primeiro óleo. São US$ 500 milhões a mais no caixa da companhia. Sem contar que, agora, a gente está querendo elevar a produção, que era de 225 mil barris por dia. Hoje, já estamos com 250 mil barris por dia. Os poços produzem muito e a planta aguenta. A SBM, que é operadora, aos poucos está tentando elevar, até chegar a 270 mil barris por dia. É o desafio colocado. A P-78 já está aí. A P-79, em novembro, sai do estaleiro a caminho do Brasil. A saída estava prevista para maio de 2026.
Ainda tem muita licitação por vir? Qual vai ser o ritmo daqui para frente?
Acabou de ser lançado o bid de Búzios 12, que é a plataforma P-91. Para o ano que vem, tem alguns projetos que estão na prancheta, como Barracuda-Caratinga, Marlim Sul e Marlim Leste. Além desses, há a revitalização de Tupi, de Roncador, o entorno de Forno e Mero V. São alguns projetos que estão na prancheta e que, no ano que vem ou no próximo, a gente vai para o mercado. Sem contar a Margem Equatorial, que a gente espera que saia. A gente tem uns seis a sete projetos para ir para o mercado.
Vai juntar as revitalizações da Bacia de Campos e do pré-sal?
Vão ser projetos diferentes, talvez na mesma época.
Em 2026, a revitalização do pré-sal começa a ganhar ritmo.
Isso. Primeiro, estamos na toada de simplificar os projetos, que ficaram muito complexos, o que acabou inviabilizando alguns deles, por isso voltaram para a prancheta. E estamos testando-os num cenário mais estressante de preço de petróleo para ver se param de pé.
A simplificação diz respeito à tecnologia?
À tecnologia, redundância de equipamentos… tudo que a gente possa simplificar. E muitas das sugestões vêm do mercado, porque se a gente não tiver projeto, o mercado também não tem. Então pedi que me ajudassem a viabilizar os projetos. Eles trouxeram muitas sugestões. Para você ter ideia, em SEAP, o peso do topside foi reduzido em 18%. É muita coisa. E a gente continua buscando alternativas para tornar mais simples ainda.
SEAP é o grande exercício nesse processo de simplificação.
Sim. E, na revitalização de Tupi, a gente se desafiou a usar um replicante, porque ele tinha menos de 30 mil toneladas o topside e pensamos no mínimo que precisamos modificar numa P-68, por exemplo, para que seja utilizada na revitalização de Tupi. Estamos, neste momento, acabando de finalizar essa avaliação para ter algo bem enxuto, que viabilize os projetos.
Como está o projeto de revitalização de plataformas?
Quando as revitalizações de Barracuda-Caratinga e de Marlim Sul e Marlim Leste voltaram para a prancheta, surgiu a oportunidade de reaproveitamento de cascos. A gente olhou três projetos de revitalização e viu que são muito semelhantes. Então, a gente vai fazer, em vez de um replicante, um triplicante. A gente está pensando em ter três projetos exatamente iguais e, eventualmente, usar um dos cascos dessas plataformas. O topside vai ser novo, mas o casco a gente está pensando em aproveitar. Até o final deste ano, vai lançar uma contratação para o desmantelamento do topside da P-35 e P-37 (que operavam em Marlim, na Bacia de Campos). Enquanto faz o desmantelamento, vão ser desenvolvidos os outros projetos para que, quando chegar o momento, a gente fale: vou usar esse casco para esse projeto e esse para o outro. Está sendo feito um acordo com a área de Exploração e Produção para reutilizar os cascos.
Como funciona o gerenciamento integrado de projetos?
A gente olha as três disciplinas com lupa. As três disciplinas são o FPSO, poços e subsea. O caminho crítico sempre foi o FPSO. As partes de poços e subsea ficavam na sombra do atraso do FPSO. Agora, estamos conseguindo antecipar os FPSOs e os poços entraram num caminho crítico. Mas ninguém quer ficar no caminho crítico. Foi a vez, então, de ter problemas na área de subsea, que correu atrás de alternativas. Esse olhar integrado do projeto mostrou algumas possibilidades para a gente diminuir e antecipar prazos. A gente fez uma competição e ninguém quis ficar na janela.
Isso é uma inovação.
Na verdade, não está sendo feito nada de excepcional. Estamos trabalhando mais juntos e verificando as possibilidades de antecipação.
E está dando resultado?
O FPSO Tamandaré entrou três meses antes. Estamos conseguindo antecipar a P-78, que estava mais para a frente, a P-79, que estava para meados do ano que vem. Mas não é simples. É um estresse todo dia. Toda vez que muda uma coisa dá um strike no outro, porque está tudo muito juntinho. Mas está indo bem.
A estratégia de contratação também é definida à medida que os projetos vão para a rua? Se vai usar BOT (build-operate-transfer), por exemplo.
Tem até um padrão aqui na Petrobras, que é da área de E&P, que define se vai afretar, fazer unidade própria, ou BOT. Tem várias coisas que a gente olha: o mercado está superaquecido de afretamento, as empresas estão com pouca financiabilidade, há pressa, qual a financiabilidade da companhia? São diversas variáveis na mesa.
Mas o BOT tem sido o queridinho, agora.
Quando a gente tentou o afretamento teve muito insucesso. Parte disso porque as empresas estavam sem financiamento. Uma alternativa foi fazer o BOT, porque o financiamento é nosso. Estamos experimentando o BOT agora. Já fizemos no passado. A P-57 foi BOT. Retomamos agora. SEAP I e SEAP II vai ser a primeira nesse modelo, depois o FPSO de Albacora.
Você falou há pouco sobre o que esperar para 2026. A Petrobras já vai iniciar compras para a Margem Equatorial no ano que vem?
Ainda não, porque a empresa vai iniciar a fase exploratória. Depois do desenvolvimento dos poços é que a gente vai desenvolver o conceitual do projeto. O máximo que vai ser feito são poços.
Seria a partir de quando?
Se o primeiro poço for perfurado neste ano, tem mais um ano e meio de projeto. Em meados de 2027 (começam as compras para a Margem Equatorial), talvez. Final de 2027. Por aí.
E o projeto do Hisep continua com plano de entrada em 2028?
Continua. Está em desenvolvimento. Vou em meados de novembro, no centro de tecnologia da TechnipFMC (fornecedora da tecnologia), ver o andamento. O pessoal da TechnipFMC também vem do exterior.
Como você vê a capacidade da indústria atender às encomendas da Petrobras, especialmente a local?
É o que comentei. A Petrobras está ajudando a indústria local a se levantar. Por enquanto, ela está respondendo. Na Rnest, a empresa que ganhou a maioria dos pacotes já mobilizou 3 mil empregados. No Comperj, a assinatura aconteceu recentemente, então, não começaram as mobilizações. Mas a gente vê que estão bastante engajados. O que vemos de gargalo é a concorrência com data centers, que utilizam os mesmos turbogeradores que usamos em plataformas e usinas termelétricas. Eles estão com uma demanda muito forte. São poucas empresas no mundo que fazem. São três e elas estão com encomendas até o topo. Esse é o maior gargalo, não é nem a indústria local.
A concorrência por turbogeradores pode atrasar os projetos da Petrobras?
Está sendo visto como minimizar, se a gente mesmo compra antecipadamente. Estamos estudando alternativas para eliminar esse gargalo.
Os estaleiros ainda reclamam muito dos efeitos negativos das recuperações judiciais. Como mudar esse cenário?
A nossa ideia de trazer parceiros, principalmente chineses, foi para ajudá-los nessa parte financeira, não só de tecnologia, para ganharem musculatura e saírem da recuperação judicial. A nossa contribuição tem sido tentar fazer esse casamento.
Essa parceria com os chineses está acontecendo?
Com a Ecovix está mais avançado. Algumas outras estão interessadas em fazer parcerias, mas nenhuma assinou ainda um compromisso formal. Há vários memorandos de entendimento assinados entre estaleiros e empresas chinesas, mas não vi nenhum contrato final.
Entrando no tema da Engenharia, como a Petrobras pode aumentar a atratividade da indústria de petróleo para jovens talentos?
Tem sido feito um trabalho muito grande de base. A empresa leva muitos jovens no Cenpes (Centro de Pesquisa da Petrobras). Na Petrobras, a gente tem dificuldade também de atrair mulheres. Hoje em dia, elas são maioria nos cursos de Engenharia Química. Mas quando a gente faz um concurso na área, as mulheres não se inscrevem. Elas não se veem dentro da Petrobras. Então, tenho feito aulas inaugurais de Engenharia para atrair as meninas. Estamos fazendo um trabalho grande também com o pessoal de nível médio. Abrimos estágios…
Como estará a Engenharia da Petrobras em 2050, num outro cenário de transição energética?
Esse exercício está sendo feito. Quinze por cento do nosso orçamento de Pesquisa e Desenvolvimento é em baixo carbono. E já aprovamos internamente ampliar isso para 40%. Os renováveis ainda estão muito caros. Seria muito caro produzir com renováveis a mesma quantidade de energia que a gente produz com petróleo. A Petrobras tem investido em tecnologia para baratear os custos dessas energias renováveis. Para 2030 e 2040, ainda haverá muito petróleo e adição de outras energias. O Brasil é deficiente em energia. E a gente acredita ter um potencial Petrobras de molécula.
A Petrobras está entrando em CCS (captura e armazenamento de carbono) também. Como está o projeto?
Foi aprovado o piloto São Tomé (em Macaé, RJ). Vamos testar um novo tipo de reservatório salino, que a gente não conhece, para ver como descarbonizar a parte do downstream e como toda metalurgia se comporta nesse teste. Eventualmente, pode virar um negócio para a Petrobras. E quem sabe, no futuro, o CO2 não vai ser a fonte de energia para algum outro produto. Tudo começa com a captura e o armazenamento. Depois a gente vê como consegue usar para obter mais energia.
O que muda no plano de negócios com a queda do preço do petróleo?
A Petrobras vai ter que ser muito resiliente, vai ter que ajustar, principalmente, os gastos operacionais. Vai ter que dar uma grande enxugada e olhar com lupa tudo que gasta para que possa viabilizar o investimento, porque, se não, vai gastar em operação e perder o futuro. Vamos fazer o estritamente necessário para que a gente possa continuar investindo.
O investimento vai ser reduzido?
É uma briga, porque ninguém quer abrir mão do seu projeto. A gente está discutindo ainda.
Assista à entrevista na íntegra:
Veja outras notícias sobre entrevista



