A Airbus considera o Brasil um dos países com maior potencial para se tornar um ator relevante na produção de SAF (Sustainable Aviation Fuel). A avaliação leva em conta a diversidade de matérias-primas disponíveis e a possibilidade de desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis a partir de áreas degradadas, associadas ao know-how europeu em bioenergia. O combustível de aviação sustentável é visto pela fabricante como peça central para a redução das emissões do setor aéreo nas próximas décadas.
Em conversa com a Brasil Energia, o gestor internacional e de estratégia da Airbus, Tarcísio Soares, afirmou que a empresa mantém diálogo com empresas e centros de pesquisa brasileiros, como Embrapa, universidades e companhias do setor energético, para acompanhar o avanço de projetos com diferentes culturas e resíduos agrícolas. Ele citou exemplos como macaúba, canola e outras matérias-primas que evitam a concorrência com a produção de alimentos. “Quanto mais desenvolvimento conseguirmos agregar, melhor, porque ajuda a superar conceitos como o de comida versus combustível”, observou.
Embora o executivo destaque que, no Brasil, ainda não há produção em escala comercial de SAF, ele chama atenção para iniciativas em andamento, como projetos da Acelen, que recentemente inaugurou Agripark para germinação da macaúba para seu megaprojeto que prevê produzir HVO e SAF, e da Petrobras. Para a Airbus, a ampliação dessa oferta é essencial para atender à demanda de companhias aéreas e garantir abastecimento local, uma vez que a utilização do combustível depende da decisão de cada operador.
Atualmente, as normas internacionais estabelecem limite de até 50% de mistura de SAF com querosene de aviação convencional (Jet A-1), de acordo com padrões como o ASTM D1655 e especificações de blend aprovadas. Na União Europeia, regulamentos também preveem esse teto, embora haja estudos para permitir 100% de uso. A Airbus já realizou testes com esse percentual máximo em aeronaves comerciais e helicópteros, sem registro de problemas, mas o combustível precisa atender a requisitos de qualidade e certificação antes de entrar em operação regular.
Soares lembrou que a segurança é prioridade no setor, e qualquer mudança depende de aprovação dos órgãos reguladores. “O avião não tem estacionamento. Qualquer problema em funcionamento pode ser um desastre, por isso os testes são extensos e criteriosos”, disse. Entre os padrões adotados está a certificação ASTM, além de critérios de sustentabilidade definidos por organismos como a OACI e entidades independentes que validam estudos e projetos.
O uso interno do SAF já integra a estratégia de descarbonização da Airbus, aprovada pela Science Based Target Initiative (SBTi), vinculada à ONU. Em 2023, a meta era utilizar 10% de SAF nas operações de teste e entrega de aeronaves, mas o índice alcançado foi de 11,4%. Em 2024, a meta era de 15% e o resultado foi de 16%. Para 2025, o objetivo é chegar a 18%.
A frota Beluga, usada para transporte interno de peças, também utiliza SAF regularmente, com percentual médio de 5%, dependendo da disponibilidade. A meta global da empresa é que todas as aeronaves sejam compatíveis com 100% de SAF até 2030, com aumento gradual da participação do combustível em suas operações.
Para a Airbus, a transição para combustíveis sustentáveis exige investimentos simultâneos em produção, infraestrutura e certificações. Ao identificar o Brasil como um parceiro estratégico, a empresa sinaliza que o país poderá desempenhar papel relevante não apenas como consumidor, mas como fornecedor de SAF para o mercado global.
Previsões
A Firjan apresentou também durante a Fenabio uma nota técnica em que afirmaser nercessário o país produzir cerca de 1,1 bilhão de litros de SAF até 2037, para cumprir as metas do programa Combustível do Futuro.
Trata-se do volume de consumo que será demandado para atingir a meta de redução de 10% de emisões apenas dos voos domésticos nacionais. A Firjan utilizou como base as projeções da EPE para a demanda a partir de 2027.
Também a Evolua Etanol, comercializadora de etanol, segundo seu CEO, Pedro Paranhos, fez também previsão otimista. Para ele, a partir de 2030 o SAF vai criar demanda adicional de 8 milhões de metros cúbicos por ano de etanol.
Paranhos acrescentou na demanda adicional mais 3 milhões de m3 para produção de biobunker (combustível marítimo), mais 2 milhões de m3 para produzir polietileno verde, além de exportação para novos mercados que tendem a aumentar a mistura do etanol na gasolina, caso do Japão, que colocou meta de 10% até 2030 (contra os atuais 2% na forma de ETBE importado dos EUA). Apenas para o mercado japonês, a demanda seria de 5 milhões de m3/ano.
Com outros movimentos de expansão do mercado interno, para aumento da mistura até 35% e do consumo do hidratado, a previsão total seria de demanda adicional de 25 milhões de m3 a partir de 2030, apontou o CEO.



