
O etanol como combustível para oferta de potência
Revista Brasil Energia | Termelétricas e Segurança Energética
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O etanol como combustível para oferta de potência
Wärtsilä e a Energética Suape II programaram para o início de 2026 os testes para o uso do etanol em uma UTE de até 150 MW, visando atender ao mercado de capacidade. Há também planos para converter a UTE Suape II de óleo combustível para biodiesel

Testes com o etanol na geração termelétrica serão feitos como parte de uma parceria entre a finlandesa Wärtsilä e a Energética Suape II, em Pernambuco, visando classificar um novo projeto como alternativa competitiva nos leilões de capacidade.
Os testes não visam converter Suape II de UTE a óleo para etanol, mas avaliar a viabilidade da construção de uma nova termelétrica alimentada a etanol. A Energética Suape II está investindo entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões neste projeto.
Os testes envolverão um gerador de 4 MW, já comercializado na Finlândia, mas que usa metanol como combustível. O equipamento deverá chegar ao canteiro da UTE Suape II em meados de setembro, prevê o diretor técnico da Energética José Faustino.
Entre janeiro e fevereiro, deverão ser realizadas pelo menos 3.000 horas de testes de desempenho, para avaliar a eficiência com o novo combustível e definir o custo de geração, entre outros fatores. Segundo Adriano Marcolino, gerente geral de Agreements & Upgrades da Wärtsilä, a expectativa é atingir nível de eficiência entre 42% e 46%.
Outra fator de incerteza no cálculo do custo de geração é o preço do combustível. Nos testes, será utilizado etanol adquirido pelos mesmos preços cobrados nas bombas de combustível. Mas, caso os testes sejam bem-sucedidos, será possível, pela maior demanda, negociar com usinas de etanol um suprimento a valores até 40% inferiores aos do varejo.
“A nossa expectativa é que o CVU de uma térmica a etanol esteja dentro do limite de valores estabelecido pela EPE. Acreditamos que o valor seja mais baixo que o estabelecido para o óleo B100, por exemplo”, pondera Marcolino.
O Centro de Inovação da Wärtisilä, na Finlândia, já vem testando tecnologias envolvendo o aproveitamento de vários combustíveis renováveis, como hidrogênio, amônia e metanol.
Um mercado de 20 GW
Ao testar a geração térmica com o uso do etanol, a Wärtsila foca no que considera um promissor mercado “que deverá chegar até a 20 GW nos próximos 10 anos”, projeta Marcolino. “E acreditamos que conseguiremos conquistar projetos de até 1 GW, considerando-se o uso do etanol e do gás natural”.
O uso do etanol em usinas térmicas assim é mais uma alternativa potencial para atender a demanda de potência do sistema elétrico, em resposta à expansão da geração intermitente.
Marcolino lembra que o etanol, além das reconhecidas vantagens ambientais, é amplamente ofertado em grande parte do território nacional e é despachável, não demandando investimentos e infraestrutura de distribuição, como ocorre com o gás natural.
Térmica de até 150 MW
Se os testes com o etanol forem bem-sucedidos, Suape II pretende construir uma nova termelétrica alimentada com o combustível, de até 150 MW. José Faustino, diretor técnico da companhia, complementa: “O projeto não terá menos de 100 MW de potência”. Segundo ele, o canteiro da UTE Suape II conta com infraestrutura, incluindo uma moderna subestação, capaz de acomodar um projeto com até 200 MW de capacidade.
Canteiro da UTE Suape II conta com infraestrutura, incluindo uma subestação, capaz de acomodar um projeto a etanol com até 200 MW de capacidade (Foto: Divulgação/Suape II)
Além disso, a companhia estuda realizar a conversão da UTE Suape II, a maior termelétrica a óleo combustível do país, com 380 MW de capacidade, para o biodiesel, revela o executivo. A ideia da empresa é concorrer com os dois projetos no próximo leilão de capacidade a ser realizado.
No caso da futura termelétrica a etanol, a expectativa da companhia é participar do certame com maior competitividade. Segundo Faustino, além do forte apelo do combustível renovável, há expectativa de que a UTE a etanol apresente custo menor da geração de até 40% em relação a outros combustíveis.
Também na Paraíba
A UTE Borborema, de 169 GW de capacidade, situada em Campina Grande (PB) e pertencente ao Grupo Bolognesi, por um tempo foi candidata a se transformar na primeira usina termelétrica a etanol do país. A Wärtsilä chegou a realizar estudos para a conversão da termelétrica, movida a óleo combustível OCB1, para o etanol. Mas o projeto não foi a frente.
A conversão foi uma alternativa estudada para solucionar os altos custos do processo de centrifugação do óleo combustível, de acordo o diretor-presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool-PB), Edmundo Barbosa, envolvido na busca de soluções para o problema. Ainda segundo o Sindalcool-PB, a Epasa, que administra a UTE Termoparaíba (TPB) e a UTE Termonordeste (TNE), ambas com 170 MW de potência, também enfrentou as mesmas dificuldades.
O sindicato informou que, se tivesse sido convertida para o etanol, a UTE Borborema poderia consumir 250 mil litros de anidro por dia, volume disponível nas destilarias da Paraíba. A Wärtisilä não forneceu mais detalhes sobre os estudos realizados na UTE Borborema. Procurado, o Grupo Bolognesi preferiu não se manifestar sobre o assunto.
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