
ONS aperfeiçoa a gestão dos reservatórios pós 2021 com térmicas
Revista Brasil Energia | Termelétricas e Segurança Energética
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ONS aperfeiçoa a gestão dos reservatórios pós 2021 com térmicas
Lição da crise do início desta década leva a uma revisão de parâmetros e a geração térmica cresce na base, suportando a economia de água. Solar e eólica também.

Ainda não é possível dizer que o comportamento da hidrologia caminha para uma crise semelhante às ocorridas em 2014/2015 ou em 2020/2021. Mas já é possível perceber que, paralelamente ao forte crescimento das novas alternativas renováveis, especialmente da solar, o uso da geração termelétrica como suporte à conservação do armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas, associado a outras medidas, tem assegurado a manutenção dessa água em níveis que possibilitam uma sobrevida bem maior da energia armazenada do que nos dois ciclos anteriores.
Um levantamento feito por Brasil Energia referente à geração por fontes de 2018 a 2025, em MWmed, na primeira semana de maio, quando termina o período chuvoso e começa o seco na maioria das regiões do país, e na primeira de outubro, normalmente o auge do período seco, pouco antes das primeiras chuvas que, normalmente, sinalizam se o período chuvoso será mais ou menos intenso, associado às bandeiras tarifárias adotadas naqueles maio e outubro e ao nível dos principais reservatórios observados no dia 1º de cada um daqueles meses, permite chegar à conclusão acima.
Mais do que os números referentes à geração térmica e hídrica no período pesquisado, muito influenciada pelo aumento vertiginoso das fontes solar e eólica, o comportamento da bandeira tarifária comparado ao nível dos reservatórios mostra como o uso das termelétricas, especialmente nos últimos dois anos, tem sido importante para assegurar reservatórios em condições bem melhores do que no período pré-Pandemia, mesmo após mais de dois anos de chuvas insuficientes que se seguiram à bonança de 2022/2023.
Em 2018 a hidrologia vinha de uma recuperação boa em 2016, mas insuficiente para encher os reservatórios exauridos pela seca de 2014/2015, e haviam iniciado desde o ano anterior um novo ciclo de baixas afluências.
Dos quatro principais reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) - Furnas, Nova Ponte, Emborcação e Itumbiara -, responsáveis por quase metade do armazenamento do subsistema, mais Sobradinho (58% do Nordeste), apenas Itumbiara estava acima dos 40% (63,29%) ao final do período úmido, justificando a bandeira amarela em maio e vermelha na sequência, Patamar 1 em junho e 2 nos meses seguintes.
Em outubro os cinco reservatórios estavam exauridos, três abaixo de 20%, Itumbiara com 22,85% e Sobradinho com 25,29%. Para uma geração total de 61.912 MWmed na primeira semana de maio daquele ano, em tempos de geração solar no berçário (0,06% do total) e de eólica ainda modesta, a geração hídrica contribuiu com 76,45% e a térmica convencional com 12,59%.
Para a primeira semana de outubro do mesmo ano, mesmo com os reservatórios ainda mais exauridos, as hídricas entraram com 68,30% do total de 61.811 MWmed e as térmicas convencionais com 17,93%, ainda que as eólicas tenham entrado com significativos 10,48%, a fonte nuclear com 3,21% e a solar com 0,08%.
UHE tumbiara: um dos reservatórios do SE/CO, o de Itumbiara era o único que estava acima dos 40% em 2018 (Foto: Divulgação)
As chuvas do período úmido 2018/2019 foram modestas e os cinco reservatórios chegaram a maio todos com menos de 50% de volume útil, um nível alarmante.
Contudo, a bandeira tarifária começou o período seco no amarelo, com as hidrelétricas, sempre incluindo Itaipu Binacional, cobrindo 80,65% do total de 62.731 MWmed gerados, cabendo às térmicas convencionais 11,57% - ressaltando-se que entre 3 mil e 4 mil MWmed estão associados a inflexibilidade -, às eólicas 6,65%, à nuclear 1,03% e à solar 0,10%.
A bandeira passou a verde em junho e julho, subiu para vermelha patamar 1 em agosto e setembro, voltando à amarela em outubro, mês em que os cinco reservatórios citados acima estavam nas casas dos 20% ou 30%, pedindo a São Pedro muitas chuvas a partir de novembro/dezembro.
Elas não vieram. Quem chegou no final de fevereiro de 2020 foi a macabra pandemia da Covid-19, ceifando mais de 700 mil vidas antes que os efeitos da vacinação, que começaria em janeiro de 2021, estancassem o morticínio. Naquele contexto, população em lockdown e economia virtualmente parada, os parâmetros técnicos e econômicos perderam o sentido, sobrepostos pelo drama social. A bandeira verde prevaleceu de fevereiro a novembro de 2020.
O consumo voltou aos poucos, fazendo a geração passar de 55.589 MWmed na primeira semana de maio para 69.737 MWmed na primeira de outubro, mas as chuvas, basicamente, não. Mesmo sob bandeira verde, a geração térmica contribuiu com 15,36% do consumo na primeira semana de outubro contra 70,87% das hídricas.
A bandeira subiu para vermelha patamar 1 em dezembro, mas recuou para amarela em janeiro, assim permanecendo até abril, enquanto o desastre, agora energético, se avizinhava. As chuvas até abril não foram suficientes nem para manter o nível dos reservatórios, operando sob a condição de bandeira amarela.
Sob pressão do ONS, a geração térmica foi sendo ajustada, passando de 12,48% na última semana de março para 16,19% na primeira de maio, mesmo com a queda do consumo trazida pelo arrefecimento da temperatura. A bandeira finalmente foi ajustada para vermelha patamar 1, mas a crise já estava instalada, sendo oficializada pelo CMSE no dia 27 daquele mês.
O socorro de São Pedro e o conservacionismo
Com os reservatórios de Furnas, Nova Ponte, Emborcação e Itumbiara registrando catastróficos 13,60%, 10,30%, 10,09% e 10,90%, respectivamente, em 1º de outubro de 2021, a geração hídrica ficou em 52,81%, socorrida pelos 28,09% gerados pelas térmicas e 15,92% das eólicas, além da tradicional contribuição das nucleares (2,93%) e dos 173 MWmed da solar ainda engatinhando.
Com o debate sobre a instituição do racionamento amadurecendo, semelhante ao ocorrido em 2001/2002, o socorro veio do céu. A partir da segunda quinzena de outubro as chuvas voltaram e se espalharam pelo país, iniciando um ciclo de recuperação consistente dos principais reservatórios hidrelétricos.
A lição estava aprendida e, mesmo em meio à recuperação, não se caiu na tentação do período úmido anterior. Em dezembro de 2021 foi instituída extraordinariamente a bandeira de escassez hídrica, mais cara do que a vermelha patamar 2, que vigorou até 15 de abril de 2022, exceto para a tarifa social que passou a contar com bandeira verde desde março.
O objetivo era recuperar os reservatórios das hidrelétricas e, mais uma vez, as termelétricas fizeram o papel de suporte desse planejamento, ainda mais em uma conjuntura de poucos ventos como é comum no período chuvoso do Nordeste.
Na primeira semana de janeiro, com os reservatórios em recuperação consistente, Furnas acima de 30%, as térmicas entraram com 13,63% da geração total e no primeiro dia de fevereiro, com Furnas a 56,80%, Nova Ponte a 28,35%, Emborcação a 37,55% e Itumbiara a 44,46%, as térmicas atenderam 11,89% da demanda.
Com a fartura de água retomada, Furnas acima de 85% no dia 02/05 e Sobradinho prestes a verter pela primeira vez após muitos anos, a geração térmica pode voltar ao leito normal para aquela época do ano, gerando 4.968 MWmed na primeira semana de maio, 7,35% do total.
Veio o longo período de bandeira verde que se estenderia de abril de 2022 a junho de 2024, com o sinal amarelo aceso em julho, picando para verde em agosto e subindo para vermelho a partir de setembro (patamar 1) e outubro (patamar 2).
Na primeira semana de outubro, mesmo com todos os grandes reservatórios acima listados operando acima de 35% de armazenamento, o levantamento nos dados do ONS mostraram as térmicas voltando a contribuir fortemente, com 17,73% da geração total de 82,197 MWmed.
Isso em uma conjuntura na qual a contribuição da energia solar cresceu exponencialmente a partir da segunda metade de 2023. A combinação do esforço térmico com as gerações solar (12,46%), eólica (18,97%) e nuclear (2,37%) permitiu que as hidrelétricas, incluindo Itaipu, poupassem água, atendendo somente 48,17% da demanda total.
O aprendizado da crise segue orientando o comportamento da geração atual, ajudada pela mudança na matriz que deixou de ser quase que exclusivamente hidrotérmica. Segundo a EPE, as fontes eólica (14,1%) e solar (9,3%) fecharam 2024 com 23,4% da capacidade total de geração do país.
Na primeira semana de setembro, mesmo com todos os cinco grandes reservatórios aqui relacionados com mais de 50% de armazenamento no dia 1º do mês, a geração térmica contribuiu com 13,16% da geração total de 76.821 MWmed, preservando as hídricas que contribuíram com apenas 47,64%. A lição foi assimilada!
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