
Térmicas a biomassa tornam o MS exportador de energia firme
Revista Brasil Energia | Termelétricas e Segurança Energética
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Térmicas a biomassa tornam o MS exportador de energia firme
Quase 25% da geração firme no estado vem de UTEs a bagaço e palha de cana, licor negro celulósico e resíduos de florestas energéticas (plantadas). E o estado pleiteia abrigar data centers com essa energia renovável garantida

O Mato Grosso do Sul galgou, no primeiro semestre deste ano, uma importante posição no ranking da geração de energia elétrica a partir da queima da biomassa. O estado atingiu a marca de 2.439 MW de capacidade instalada em geração com biomassa, passando à segunda posição nesse ranking, que até então pertencia a Minas Gerais (com 2.186 MW). Com isso, o Mato Grosso do Sul está agora atrás apenas de São Paulo, líder isolado na produção de bioeletricidade, com um parque de 6.995 MW de capacidade.
O acréscimo de potência reforçou atributos do parque gerador de energia do Mato Grosso do Sul no que se refere à segurança e à transição energética. A oferta de energia firme elevou-se a uma participação de cerca de 87% da potência instalada total do estado, de 9.843 (MW). A geração com biomassa passou a representar pouco mais de 24,3% desse total, somando-se à geração de hidrelétricas (quase 60%) e termelétricas movidas a fontes fósseis (cerca de 6%). No estado, a geração fotovoltaica corresponde a menos de 13% da capacidade do parque gerador e a energia eólica não aparece nas estatísticas.
Outro benefício é o fato de pouco mais de 94% da oferta de energia no estado ser proporcionada por fontes renováveis. Jaime Verruck (foto), secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, destaca também que o Mato Grosso do Sul é um ‘exportador’ de energia elétrica para o sistema. “Apenas 50% da energia que produzimos é consumida aqui.”
A produção de energia a partir da biomassa no Mato Grosso do Sul está vinculada à atividade dos setores sucroenergético e de papel e celulose. Os dois segmentos têm como uma de suas características proporcionar a oferta de energia praticamente o ano todo. No caso das usinas de etanol, embora a safra tenha um período de alguns meses, a oferta de bagaço garante a produção de energia elétrica o ano todo. No segmento de papel e celulose, as plantas costumam parar apenas 10 dias por ano.
Segundo dados da Unica, até março desse ano a biomassa da cana (bagaço e palha) garantia 70,1% da potência instalada de toda biomassa, com 12.670 MW instalados, dividida por 428 unidades em operação comercial. Já o licor negro, resultante do processo de fabricação de celulose, era utilizada em 23 plantas com um total 3.719 MW. Na sequência, os resíduos florestais eram utilizados em 77 unidades, com 889 MW.
Mesmo diante desse panorama já favorável, o governo sul-matogrossense continua buscando estimular o aproveitamento da biomassa para a produção de energia. O estado conta com oferta abundante, considerando, por exemplo, o bagaço e a palha da cana-de-açúcar e a madeira, entre outros. Para estimular os projetos, o estado criou no início dessa década o Programa MS Renovável, que oferece benefícios fiscais para a geração de energia a partir de fontes renováveis.
Com ampla oferta de energia firme e renovável, o Mato Grosso do Sul entrou na disputa pela atração de projetos de data centers. O estado já conseguiu atrair pelo menos um projeto de mineração de bitcoin, da Tether, que deverá utilizar energia elétrica produzida a partir de biomassa, segundo o secretário Jaime Verruck. O projeto deverá demandar 12 MW, que deverão ser atendidos por duas usinas da Adecoagro localizadas nos municípios de Ivinhema e Angélica.
Duas usinas a biomassa campeãs
O salto na capacidade de geração de energia a partir da biomassa no Mato Grosso do Sul foi proporcionado pela entrada em operação de duas usinas térmicas neste ano. A Inpasa, fabricante de etanol de milho, iniciou a operação de uma usina em Sidrolândia, com 53,1 MW de capacidade, que utiliza resíduos florestais para produzir energia. A fabricante de papel e celulose Suzano, por sua vez, colocou em operação em Ribas do Rio Pardo uma unidade de 384 MW movida a licor negro, um resíduo líquido resultante do cozimento da madeira.
O Governo do Mato Grosso do Sul lista 24 usinas que geram bioeletricidade a partir do bagaço e da palha da cana e, segundo o secretário Jaime Verruck, esse segmento está praticamente consolidado.
Usina da Suzano em Ribas do Rio Pardo, de 384 MW, movida a licor negro (Foto: Divulgação)
Já a indústria de papel e celulose deverá continuar, pelo menos nos curto e médio prazos, a ampliar a geração de energia. A fabricante de papel e celulose Arauco, por exemplo, está implantando um projeto em Inocência, que contará com uma usina com capacidade para produzir 400 MW, dos quais metade será para consumo próprio e a outra metade deverá ser injetada na rede.
Gargalos na transmissão e distribuição
Com energia firme e renovável de sobra, o Mato Grosso do Sul vem esbarrando no déficit de infraestrutura de transmissão e distribuição de energia para realizar o escoamento da eletricidade produzida. O secretário Verruck diz que, por conta disso, algumas empresas tem até investido em redes para viabilizar os projetos de geração.
Ele cita o caso da Arauco, obrigada a construir uma linha de transmissão entre o município de Inocência e uma subestação em Ilha Solteira (SP), com 92 km, sem a qual não conseguiria exportar o excedente de energia para o sistema elétrico.
O déficit em linhas de distribuição e transmissão também vem afetando o desenvolvimento do agronegócio. “Temos projetos do Programa MS Irriga que estão sendo tocados com energia produzida por geradores a diesel devido ao gargalo nas redes.”.
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