Olimpíadas Científicas: desenvolvimento educacional e tecnológico

Opinião

Olimpíadas Científicas: desenvolvimento educacional e tecnológico

Realizada às vésperas da COP30, a Olimpíada Nacional de Eficiência Energética (ONEE) emerge como um marco educacional, celebrando conquistas de estudantes e professores enquanto ilumina a importância de um tema central da conferência: a sustentabilidade

Por Luciana Allan

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Se você tem dúvida sobre como um programa educacional brasileiro como a Olimpíada Nacional de Eficiência Energética (ONEE) - voltada a estudantes dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e a seus professores - pode contribuir para um futuro mais sustentável, trago aqui algumas reflexões. 

Inicialmente, parabenizo os 96 mil estudantes que participaram da jornada educacional gamificada da ONEE e, lógico, os três medalhistas: Felipe Louçana Feitosa, de Boa Vista (RR) e sua professora Larissa Alves de Matos; Izadora Alves Parente, de Rio de Janeiro (RJ) e a docente Cláudia Santos; e Luiza Moreira Cabreira, de Içara (SC) e sua professora Elen dos Santos Brunel. O resultado desse esforço coletivo reflete não apenas talentos individuais, mas um alicerce para um futuro mais sustentável. 

As olimpíadas do conhecimento, sejam acadêmicas ou científicas, têm um papel transformador na Educação Básica, oferecendo desafios que vão além do currículo tradicional. Elas despertam o desejo de aprender, atuando como porta de entrada para universidades, tanto nacionais quanto internacionais. No contexto atual, a relação entre eficiência energética e a consciência sobre sustentabilidade nunca foi tão relevante. Essa modalidade de competição educacional estimula a adoção de hábitos que minimizam impactos ambientais. 

É imprescindível lembrar que diversas iniciativas educativas estão sendo realizadas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP30, em Belém. Dentre elas, destaca-se a 3rd Annual Meeting of the Greening Education Partnership e a Ministerial Roundtable on Greening Education, promovidas pela Unesco; o dia dedicado à educação ambiental, planejado pelo Ministério da Educação (MEC) abrangendo desde o Ensino Fundamental até o Médio; e a 3ª Jornada de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global – Rumo à COP30, com eventos preparatórios promovidos pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). 

A intersecção entre Educação e combate à emergência climática é clara e urgente. 

O papel global das Olimpíadas Científicas 

Desde a década de 1950, há olimpíadas internacionais do conhecimento. A pioneira foi a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO). Hoje, contabilizam-se centenas, de temas diversos, nas quais se engajam mais de 100 nações. 

Embora os Estados Unidos sejam referência global pela participação em quase todas as Olimpíadas Internacionais de Conhecimento com forte apoio de universidades, fundações e do governo federal, e pela amplitude e integração dessas competições ao sistema educacional, outros países também tratam essas competições como prioridade. 

É o caso de Coréia do Sul, onde as olimpíadas do conhecimento estão integradas às metas curriculares e à formação de professores. Índia e Rússia, que ainda como União Soviética foi a criadora do modelo moderno de olimpíadas científicas, influenciou toda a Ásia Oriental. 

A China considera as olimpíadas científicas um instrumento de política nacional de talento e inovação: milhões de estudantes inscrevem-se anualmente nas seleções nacionais em Matemática, Física, Química, Informática e Biologia. Desde os anos 1980, o país domina o quadro de medalhas internacionais e usa as olimpíadas como laboratório de formação de cientistas e engenheiros que depois integram a elite acadêmica e tecnológica do país. 

Na América Latina, o Brasil é o país mais ativo em número e diversidade de olimpíadas do conhecimento, ainda que não tenhamos noção de como aproveitá-las como os asiáticos. 

Desde a criação da primeira olimpíada de Matemática no Brasil, em 1979, o número de eventos desse tipo explodiu, totalizando mais de 100 competições nacionais voltadas para estudantes do Ensino Fundamental ao Médio. O que diferencia essa realidade brasileira é a dimensão social dessas competições, que funcionam como ferramentas de inclusão e impulso educacional, democratizam o acesso ao conhecimento, alcançando regiões antes marginalizadas.  

Programas como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP) levaram competições a regiões antes excluídas. Em 2025, a OBMEP registrou cerca de 18,6 milhões de estudantes inscritos, do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio de instituições públicas e privadas. 

Importância educacional 

Essas competições se destacam como uma das mais inovadoras estratégias de ensino em nosso país, promovendo o aprimoramento de habilidades fundamentais nos participantes, como pensamento crítico, raciocínio lógico e capacidade de resolução de problemas. 

Como bem disse Sir Ken Robinson: “Educação eficaz é criar boas oportunidades de aprendizagem para pessoas reais, de comunidades reais, em um mundo em constante evolução. A experiência é pessoal, mas os problemas são cada vez mais globais...”. 

Neste ano, tive a oportunidade de participar da organização da ONEE, por meio do Crescer, e pude testemunhar a emoção e o impacto gerados na vida de 27 adolescentes finalistas da competição. Eles vieram de cidades de todos os tamanhos para representar seus estados na etapa final, realizada entre 5 e 6 de novembro, em Brasília. 

Esses adolescentes conseguiram conectar os conteúdos disciplinares a situações do mundo real, utilizando tecnologias inovadoras, jogos digitais, realidade virtual e dinâmicas desafiadoras. Essa experiência não apenas ampliou seus conhecimentos, mas também desenvolveu diversas competências socioemocionais, como disciplina para participar de uma competição desse porte, autoconfiança, autocontrole, organização e resiliência. 

Além disso, levaram consigo um rico aprendizado cultural ao conhecer diferentes realidades e pessoas. Essas vivências certamente deixarão marcas profundas e inesquecíveis em suas trajetórias, repercutindo positivamente ao longo de suas vidas. 

O reconhecimento da sociedade

É fundamental que a sociedade reconheça a importância das olimpíadas do conhecimento como um passo crucial para o desenvolvimento integral dos jovens. Esses eventos não apenas promovem habilidades acadêmicas, mas também preparam os estudantes para os desafios do futuro. É essencial, portanto, que pais, educadores e líderes comunitários se unam na promoção e valorização dessas iniciativas. 

Ao integrar as olimpíadas do conhecimento ao currículo escolar, podemos garantir que mais alunos tenham acesso a experiências enriquecedoras e oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. O impacto positivo que essas competições podem ter na motivação dos estudantes e no seu desempenho acadêmico é inegável, estimulando um espírito de competição saudável e colaboração. 

Ao longo do tempo, construir uma cultura de valorização do conhecimento e da pesquisa entre os jovens não é apenas uma responsabilidade das instituições de ensino, mas sim um esforço coletivo que envolve escolas, famílias e o governo. Precisamos levar adiante essa bandeira, estimulando discussões e ações que destaquem a relevância das olimpíadas do conhecimento como uma ferramenta indispensável para formar cidadãos mais críticos, criativos e preparados para o mercado global. 

Assim, ao caminharmos juntos nesta jornada, poderemos transformar não apenas a vida dos estudantes que participam, mas também o futuro da nossa sociedade. A Educação é a chave que abre portas e, ao investir nas olimpíadas do conhecimento, estamos investindo em um amanhã mais promissor. Em última análise, é nosso dever garantir que todos os estudantes tenham a chance de brilhar e deixar sua marca no mundo. 

O caminho já foi aberto. Estão em curso premiações privadas e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior -  iniciativa do CNPq, voltada para estudantes do ensino fundamental, médio e técnico. Avante! 

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