Unindo a Inteligência Artificial à Inteligência Humana: o engenheiro digital

Um dos assuntos mais comentados nos últimos meses foi o avanço da Inteligência Artificial. Embora já esteja sendo utilizada há alguns anos na área industrial, corporativa e comercial das organizações, o surgimento de chatbots sofisticados baseados em GPT (Generative Pre-trained Transformer), popularizou a inteligência artificial por toda sociedade. Estes chatbots são capazes de entender e responder à linguagem natural de uma forma que não era possível anteriormente, tornando-os bastante eficazes no atendimento às demandas dos profissionais das mais diversas indústrias, revolucionando modelos de negócios.

A questão não é se a inteligência artificial irá substituir o ser humano em algumas funções, mas sim, como o humano a utilizará para gerar vantagens competitivas sustentáveis em suas organizações. Teremos uma categoria de profissional que saberá aplicar as potencialidades da IA, e uma outra categoria dos que não estarão familiarizados com este tema. Precisamos fomentar o uso da IA de forma responsável, sem que isso resulte numa “idiotização” das pessoas, que passariam a não ter capacidade para analisar as respostas dos sistemas com IA e minimamente questioná-las, deixando de ter um pensamento crítico sobre os mais diversos assuntos.

Temos IA aplicada em tudo atualmente. Fazendo vídeos, artigos, imagens, predizer cenários econômicos, meteorológicos e na área de manutenção industrial não seria diferente. É um risco para os profissionais, pensar que o uso da Inteligência Artificial (IA) dispensa a necessidade de se usar a Inteligência Humana (IH). De fato, devemos usar a IA para potencializar a IH. Este é o conceito da Inteligência Artificial Centrada no Humano (HCAI – Human Centered Artificial Intelligence), que, adotado adequadamente, gera vantagens competitivas sustentáveis para as organizações.

Um bom exemplo prático de adoção deste conceito HCAI, é em sistemas de predição de falhas em equipamentos rotativos, críticos e sistemas industriais, usando a inteligência artificial para identificar tendências de comportamentos operacionais que podem conduzir a uma falha (anomalia).

A IA traz insights muito importantes, mas não podemos descartar a necessidade do engenheiro digital, um profissional com conhecimento de tecnologia, tanto OT (Operational Technologies) como IT (Information Technologies), capaz de compreender o cenário de negócios da organização e gerar valor através do uso estratégico dos dados, tendo a IA como uma das ferramentas para atingir os objetivos quantitativos e qualitativos para a organização.

A predição de falhas usando IA é caracterizada pela adoção de algoritmos que identificam comportamentos e anomalias nos processos, equipamentos e sistemas industriais, chamando a atenção do engenheiro digital para situações em que, somando-se à sua inteligência humana, apontará alertas relevantes para uma tomada de decisão mais efetiva dos engenheiros e técnicos de manutenção, evitando paradas inesperadas que podem gerar riscos operacionais, ambientais ou de vida.

Este engenheiro digital, com entendimento do processo da tecnologia e de negócios, terá condições de entregar um resultado muito mais efetivo e gerar ainda mais valor para a organização, do que implementarmos um sistema para gerar um dashboard com gráficos interessantes, mas que, infelizmente, não serão vistos ou interpretados adequadamente devido à realidade do dia a dia das obrigações de um profissional de manutenção.

O conceito de HCAI aplicado à manutenção preditiva coloca a IA e a IH no mesmo vetor de direção na geração de vantagens competitivas sustentáveis dentro de uma estratégia de transformação digital.

Sua refinaria ou plataforma já está usando HCAI na manutenção? Vamos aprofundar este assunto?

Victor Venâncio, engenheiro de Produção e Mecatrônico com M.Sc e MBA pela FGV e Senior Executive Program pela Esade Business School, é Diretor de Transformação Digital Latam da Samson Group. Escreve na Brasil Energia a cada dois meses.