
Competitividade das Tecnologias na Geração Térmica no PDE 2034
Opinião
Competitividade das Tecnologias na Geração Térmica no PDE 2034
Uma análise alternativa sugere que uma abordagem mais flexível na modelagem da expansão térmica indica que a tecnologia de ciclo simples se torna dominante e substitui integralmente a expansão atribuída às UTEs de ciclo combinado

O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), projeta a expansão da matriz termelétrica brasileira com a inclusão de 7.500 MW em novas usinas, além dos 7.200 MW compulsórios no âmbito do Programa de Termelétricas, instituído pela Lei nº 14.182/2021.
Segundo o Cenário de Referência do PDE, essa expansão se divide entre 3.500 MW provenientes de usinas a ciclo simples (UTE-CS) e 4.000 MW oriundos de usinas flexíveis com tecnologia de ciclo combinado (UTE-CC).
A Região Sul do país assume papel de destaque, com previsão de 4.200 MW adicionais (2.000 MW em ciclo simples e 2.200 MW em ciclo combinado) entre 2028 e 2034. Essa alocação reforça a relevância da região para o atendimento à demanda de potência, sobretudo diante da crescente intermitência de fontes renováveis.
Um aspecto relevante do Cenário de Referência é a imposição pelo planejador de um limite anual de 500 MW para a expansão de UTE a ciclo simples, o que leva a necessidade da expansão de usinas a ciclo combinado.
Uma abordagem alternativa: expansão livre de restrições
Com o objetivo de aprofundar essa análise, foi elaborada uma alternativa ao Cenário de Referência, utilizando a mesma base metodológica e modelo computacional adotado pela EPE, mas removendo a restrição de 500 MW anuais para usinas a ciclo simples. A proposta visa avaliar a competitividade relativa entre UTEs de ciclo simples e de ciclo combinado em um ambiente de maior liberdade tecnológica.
Os resultados são claros: sem a limitação anual, a tecnologia de ciclo simples torna-se dominante no horizonte decenal, com uma expansão de 9.000 MW, substituindo integralmente e com folga a expansão antes atribuída às UTEs de ciclo combinado, que deixam de ser selecionadas pelo modelo.
Implicações regionais e estratégicas
Dentre os 9.000 MW de expansão em ciclo simples, mais de 4.000 MW são alocados na Região Sul, evidenciando o papel estratégico da região no atendimento da demanda por potência ao sistema interligado nacional. A combinação de disponibilidade de infraestrutura, proximidade da carga e condições operacionais favoráveis impulsiona essa alocação.
Custo e viabilidade
Do ponto de vista econômico, o custo total de investimento e operação da alternativa proposta é ligeiramente inferior ao do Cenário de Referência, cerca de 0,1% a menos, valor que se encontra dentro da margem de erro do modelo. Apesar de pequena, essa diferença sinaliza que, mesmo sob parâmetros conservadores, o ciclo simples apresenta vantagem competitiva frente ao ciclo combinado no contexto atual.
Essa análise alternativa sugere que uma abordagem mais flexível na modelagem da expansão térmica pode revelar configurações mais eficientes e aderentes às reais condições do setor elétrico brasileiro.
O debate sobre os critérios que orientam a escolha tecnológica nas projeções de longo prazo deve considerar não apenas os aspectos técnicos e econômicos, mas também as condições regionais e o papel estratégico das fontes firmes no processo de transição energética.