Indústria Brasileira de Petróleo e o Brasil no G7
Opinião
Indústria Brasileira de Petróleo e o Brasil no G7
Com a descoberta do pré-sal, o Brasil se tornou um dos principais produtores mundiais de petróleo. O que pode ainda ser feito para que o pré-sal contribua para alavancar a economia brasileira e o país se alinhar ao grupo das sete maiores economias do planeta
Coautores: Marcelo Muller e Bruno Leonel
A primeira tabela deste artigo mostra a participação do setor de Óleo e Gás nas 20 maiores economias do mundo. O Brasil figura ainda na décima posição, com PIB de US$ 2,13 trilhões, abaixo do Canadá e Itália, mas já com participação elevada do setor de O&G.
O avanço da China nos últimos 20 anos foi surpreendente, ocupando hoje, com larga diferença em relação ao terceiro colocado, a segunda posição de país mais rico do planeta, somente perdendo dos Estados Unidos que ainda ocupa, com grande diferença, a primeira posição mundial.
Há vários rankings das maiores economias e isso acontece como resultado das metodologias empregadas. Os Estados Unidos encabeçam a lista, se considerada a metodologia pelo PIB nominal em dólar. Mas com a metodologia de Paridade do Poder de Compra (PPC), a China já assumiu essa liderança, segundo alguns analistas. Já no indicador PIB per capita, os Estados Unidos continuam a frente, dada a diferença populacional entre os dois países. Neste artigo, estamos considerando o ranking pelo PIB nominal.

Fonte: IMF & World Economic Outlook
Na economia brasileira, o setor de Óleo e Gás tem uma participação importante, em torno de 11% do PIB brasileiro (IBGE, 2024), o que é muito significativo. Esse número salta para 17% quando comparado somente dentro do setor industrial. No geral, o setor de Serviços tem participação acima de 50%, o Industrial acima de 20% e o Agropecuário acima de 6%.
Uma segunda tabela mostra as reservas brasileiras certificadas em 2024. Se considerarmos que toda Reserva 1P possa ser produzida e que 50% das Reservas Prováveis, Possíveis e Recursos venham a ser produzidas, mesmo mantendo o ritmo de produção atual, teríamos produção por mais de 20 anos, período suficiente para um possível incremento do Petróleo no PIB e uma subida da posição brasileira no ranking mundial.

Fonte: Boletim de Reservas, ANP
A matriz energética brasileira é bastante independente dos combustíveis fósseis. Além de mais de 90% da geração elétrica renovável, conta também com participação crescente de biocombustíveis para movimentar os diversos meios de transporte. Hoje, a mistura de 30% de etanol na gasolina permite que boa parte da produção de petróleo possa ser exportada, gerando volume elevado de receita de exportação.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, o petróleo representou 13,3% do valor das exportações do Brasil em 2024, valor que excedeu US$ 44 bilhões e, pela primeira vez, a soja, produto até então líder em valor nas exportações da balança comercial. Portanto, o aumento da produção de O&G, além de gerar maior receita de impostos e de exportação, gera empregos e outras contribuições para a sociedade, algumas com efeitos regionais.
O pré-sal exibe as maiores produtividades dos poços do mundo, com média de produção diária superior a 30 mil barris por poço, com opex muito competitivo globalmente, mesmo em um cenário de redução da demanda. A experiência internacional mostra que a “maldição dos recursos naturais” - baixa diversificação, volatilidade econômica e captura política - pode ser evitada quando há governança sólida, visão estratégica e disciplina fiscal (Sachs & Warner, 2001). Países como Noruega, Emirados Árabes Unidos e Qatar e até mesmo estados como North Dakota (EUA) demonstram que receitas oriundas de petróleo podem financiar saltos de produtividade e garantir prosperidade de longo prazo (IMF, 2023).
Para seguirmos esses exemplos, algumas etapas são importantes:
Fortalecer um mecanismo fiscal estável – Criar um fundo soberano robusto, com regras claras e blindagem política para garantir que o principal seja poupado e os retornos sobre o investimento sejam utilizados pela sociedade. A Noruega é o maior exemplo: o Government Pension Fund Global (GPFG), administrado pelo Norges Bank Investment Management, tornou-se o maior fundo soberano do mundo, com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos em 2024. O sucesso norueguês baseia-se em três pilares fundamentais: (i) disciplina fiscal, (ii) investimentos globais diversificados, e (iii) transparência institucional (NBIM, 2023).
Investir massivamente em educação de alta qualidade – Países que alcançaram renda per capita de nível G7 priorizaram capital humano como motor de desenvolvimento. A Coréia do Sul, apesar de não ser produtora de petróleo, é um caso emblemático de como investimentos consistentes em educação e ciência podem dobrar a renda per capita em poucas décadas. A Noruega, usando receitas do petróleo, ampliou a qualidade da educação básica, suas universidades e os centros de pesquisa aplicada.
Ampliar o fomento à tecnologia e inovação – Acelerando a criação de um ecossistema capaz de gerar patentes, desenvolver startups e aumentar a competitividade industrial. Os Emirados Árabes Unidos destinaram parte de seus recursos energéticos para criar hubs de inovação, como o Masdar Institute e a Dubai Internet City, que impulsionam tecnologias limpas, inteligência artificial e logística avançada. O Qatar utilizou seu fundo soberano Qatar Investment Authority para financiar pesquisa e criar universidades internacionais.
Fortalecimento da infraestrutura logística, energética e digital – Estes são elementos essenciais para aumento de produtividade. Países que usaram receitas de petróleo para desenvolver logística moderna, como os Emirados com o Porto de Jebel Ali e o aeroporto de Dubai, transformaram-se em plataformas globais de comércio. No caso brasileiro, a ampliação do investimento em rodovias, ferrovias, transmissão de energia, portos eficientes e conectividade digital é crucial para reduzir o Custo Brasil e acelerar o crescimento.
Garantia da transparência, previsibilidade regulatória e participação social – O Brasil possui instituições fiscalizadoras fortes, como o TCU e o Ministério Público, mas carece de integração institucional específica para políticas de petróleo. Um sistema nacional de transparência do petróleo, com painel público em tempo real, auditores independentes e participação da sociedade civil, contribuiria para proteger os recursos de interesses de curto prazo.
Por fim, é essencial adotar uma visão intergeracional. A transição energética global, a queda de demanda por combustíveis fósseis e os compromissos climáticos pressionam países dependentes de petróleo. Quanto mais cedo o Brasil converter sua renda petrolífera em ativos produtivos – humanos, tecnológicos e institucionais – maior será sua capacidade de atingir níveis de riqueza comparáveis aos países do G7.
Com disciplina fiscal, investimentos estratégicos e governança transparente, o Brasil pode transformar a riqueza temporária do petróleo em um alicerce duradouro de desenvolvimento, aproximando-se do grupo das nações mais desenvolvidas do mundo.

Fonte: IBP



