Ciclos de investimentos na produção de O&G: o que há de incomum?

Opinião

Ciclos de investimentos na produção de O&G: o que há de incomum?

Na virada de 2025 para 2026, um conjunto de fatores micro, macro, mercadológicos e técnicos estão condicionando um padrão incomum dos investimentos das empresas de Óleo & Gás, diante do atual ciclo de preços do barril

Por Osmani Pontes

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A observação histórica dos mercados de óleo e gás permite a extração de uma conclusão lógica: em momentos de baixa de preços de petróleo, as companhias buscam desacelerar os planos de exploração e expandir a produção. A razão óbvia é que os frutos da exploração possuem elevada maturidade fazendo com que a companhia incorra em riscos nem sempre cobertos por produtos disponíveis no mercado, já que os preços subjacentes desses produtos seguem preços alvo que estão em baixa, não garantindo o hedge necessário. Ao passo que a produção acaba sendo a única solução para aumentar, ainda que marginalmente, a receita.

Por seu turno, quando o ciclo de preços está em patamar de topo, a exploração é pertinente, pois há crédito favorável em mercado, as expectativas estão crescentes e a produção decorrente contribui para elevar as receitas das empresas que consolidam suas margens.

Ao menos tem sido assim desde o segundo choque do petróleo, a prevalência de uma relação quase linear entre preços do petróleo e exploração.

No entanto, no ciclo atual em que há bastante volatilidade e, na média, uma baixa de preços de petróleo, não se nota esse movimento tão linear (o que não significa dizer que há um padrão generalizado no mercado). Nota-se que, mesmo com preços desfavoráveis, as companhias estão aumentando seus projetos de exploração nos planos de investimentos, ao passo que a produção vem à reboque.

Há algumas possibilidades que condicionam esse movimento incomum e o principal deles é o contexto externo do mercado de combustíveis fósseis. Como tratado em edição anterior desta coluna, com a ascensão de Trump à Casa Branca iniciou-se um movimento global em prol dos combustíveis fósseis que enfraqueceu a aliança de bancos comprometidos com o Net Zero de emissões de carbono. Na ausência de um mercado global de carbono regulado, esse quadro foi a brecha para as empresas aumentarem planos de exploração.

Mas há um alerta que diz respeito à instabilidade desse plano de exploração. Isso porque na medida em que a condição favorável aos fósseis surgiu na esteira de um momento político específico, nada garante a durabilidade desse consenso que fica ao sabor das vitórias eleitorais nas economias centrais.

Nesse sentido, é possível imaginar como primeira conclusão que as empresas estão buscando correr contra o tempo e garantir margens robustas para enfrentar períodos de maior restrição regulatória.

Mas há outros elementos a serem considerados. Em primeiro lugar, a maioria dos investimentos em E&P está sendo conduzida com recursos próprios das empresas, recursos que são frutos dos amplos programas de recompras de ações no pós-pandemia e das robustas margens formadas no último ciclo de alta de receitas puxadas pela demanda global.

Isso se configura como única alternativa, afinal os bancos ainda são relutantes em encampar grandes projetos de extração mineral no setor. Nesse sentido, a conclusão é que as condições microeconômicas e de balanço de cada empresa contribuíram substancialmente para essa quebra de padrão observada.

Há ainda outro elemento de origem macroeconômica. A maioria das economias do mundo enfrenta taxas de juros elevadas e sofrem com a contração de demanda. Expandir a produção nesse momento pode ser benéfico para as empresas uma vez que esse movimento tende a baratear os preços e incentivar o aumento de demanda por parte de países que não podem prescindir de matriz energética concentrada em óleo e gás.

Uma estratégia que visaria ganhar na quantidade mesmo com preços mais baixos.

Finalmente, no quadro de juros altos e dólar enfraquecido, as companhias de petróleo enfrentam dupla dificuldade que é dada pelo binômio "restrição de crédito x diminuta receita em dólar". Ao expandir a produção de petróleo, a tendência é uma reversão do preço do dólar em movimento técnico que equilibra os preços relativos, o que com o poder de mercado das empresas do setor é possível de se realizar. Assim, as receitas aumentam em dólar via quantidade mesmo que os preços permaneçam constantes em baixo patamar.

É razoável concluir, portanto, que na virada de 2025 para 2026 um conjunto de fatores micro, macro, mercadológicos e técnicos estejam condicionando um padrão incomum dos investimentos das empresas de óleo e gás diante do atual ciclo de preços de petróleo.

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