
Opinião
Os efeitos do empreendedorismo em O&G e na Transição Energética
Empresas geradas na Unicamp já faturam mais de US$ 5 bilhões/ano e geram mais de 50 mil empregos diretos. Numa conta rápida, a instituição já retorna para a sociedade 4 a 5 vezes mais do que seu custo, pensando apenas em impostos

A cadeia de óleo e gás do Brasil vive um paradoxo no mínimo interessante. Apesar das grandes possibilidades de investimentos em capacitação de fornecedores e em pesquisa, há uma baixa geração de novas deeptechs/hardtechs no setor. Pesquisas mostram que apenas 5% dos empreendimentos de base tecnológica no Brasil estão ligados ao setor. Ainda, uma análise nos dados de investimento em P,D&I da ANP indicam que, de um montante que passa dos R$ 3,5 bilhões anuais, apenas R$ 27 milhões foram investidos em capacitação técnica de fornecedores.
O setor de óleo e gás brasileiro tem cenários bem específicos como a produção do pré-sal em águas ultra profundas, alta concentração de CO2, majoritariamente offshore, para ficar com apenas alguns exemplos. Em todos esses cenários, soluções locais são necessárias e algumas vezes com a necessidade de desenvolvimento de pesquisa e ao final, o desenvolvimento de novos fornecedores.
O investimento em P&D é grande por todas as empresas, quer seja em ICTs ou em empresas, mas o link entre o que é desenvolvido nas ICTs e o mercado ainda é frágil e, como observado mundialmente, precisa de empreendedores e empreendimentos de base tecnológica para essa transição de TRLs baixos para TRLs médios e a chegada ao mercado.
O mesmo ocorre com a transição energética. Nem todas as soluções desenvolvidas para uma região ou país são diretamente aplicáveis aos outros e há, além da necessidade de investimento em P&D, o investimento no desenvolvimento de novos negócios.
Ao longo dos anos observa-se grandes ondas de investimentos em áreas específicas com os recursos da cláusula de P,D&I da ANP, passando por uma formação contínua de pessoal técnico em graduação, mestrado e doutorado. Outro destino são os investimentos pesados em infraestrutura com a construção e compra de equipamentos de última geração, tornando alguns laboratórios brasileiros comparáveis a infraestruturas no exterior.
Isso acontece não apenas no setor de óleo e gás, mas no de energia como um todo. E mais recentemente, com a necessidade de transformar relatórios de pesquisas, dissertações, teses e patentes em produtos há, consequentemente, mais demanda pelo desenvolvimento de mais deeptechs e o adensamento da cadeia.
Os programas como o Conexões para a Inovação da Petrobras, o iUP do IBP, o programa Nave da ANP, entre outros, despontam como grandes possibilidades de apoio no desenvolvimento de novos empreendimentos com grande sucesso em suas aplicações. Entretanto, uma análise mais aprofundada indica que há, também, a necessidade de maior quantidade de empreendimentos e empreendedores para que se possa adensar toda a cadeia.
Diante disso, a Petrobras busca agora, através de projetos de P&D, entender quais são as melhores práticas de desenvolvimento de empreendimentos e empreendedores, desenvolver escalas de maturidade em gestão da Inovação, de forma a ter metodologias validadas para o cenário nacional, que incluam a expertise tanto brasileira quanto mundial no desenvolvimento de empreendimentos e empreendedores de sucesso.
Na Unicamp o projeto Enfuse – Entrepreneurship for Future and Sustainable Energy busca justamente o desenvolvimento dessas metodologias através de benchmarking tanto com iniciativas brasileiras quanto no exterior, além de projetos complementares tanto na USP quanto na PUC-Rio.
Ao fim, pedindo licença de apresentar o cenário da Unicamp, hoje as empresas filhas dessa instituição já faturam mais de US$ 5 bilhões anuais e geram mais de 50 mil empregos diretos. Numa conta rápida, o pessoal formado por essa instituição já retorna para a sociedade 4 a 5 vezes mais do que o custo com a universidade, pensando apenas em impostos.
Como o Brasil é visto como um dos grandes atores tanto na produção e exploração de óleo e gás quanto na transição energética, o desenvolvimento de mais empreendedores e empreendimentos na cadeia pode impactar grandemente toda a sociedade.
Mais geração de empregos, mais retorno financeiro através de renda e impostos e, até mesmo, pelo desenvolvimento no futuro de mais multinacionais, como ocorreu no passado em outras partes do mundo que hoje veem suas empresas fornecendo soluções para o mercado local. Por que não podemos sonhar?