Opinião

Plataformas de Tecnologia e ecossistema de inovação

Plataformas Demonstradoras de Tecnologia (PDT), já bem-sucedidas no setor aeroespacial, são modelo promissor para o setor de Óleo e Gás e serviriam como infraestrutura e hub para o desenvolvimento de novas empresas, empreendedores e soluções práticas

Por Marcelo Souza de Castro

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A matriz energética brasileira apresenta singularidades que a destacam globalmente, sendo majoritariamente composta por fontes renováveis na geração de eletricidade, com 90% da produção em 2023. Essa realidade, entretanto, contrasta com a forte dependência de combustíveis fósseis no setor de transportes, que ainda representa 78% do consumo.

Desde 2016, empresas nacionais e internacionais atuantes na produção de petróleo investiram cerca de R$ 31 bilhões em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I), conforme exigência contratual da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Apesar desse montante, áreas estratégicas como a capacitação de fornecedores receberam pouquíssimos investimentos, por motivos diversos. Entretanto isto compromete o crescimento de empresas de base tecnológica e a geração de empregos no país.

A trajetória de desenvolvimento tecnológico no setor de petróleo e gás brasileiro, especialmente em ambientes offshore, foi marcada por iniciativas pioneiras como os programas Procaps, que posicionaram a Petrobras como líder em tecnologias para águas profundas.

A política de conteúdo local contribuiu para a expansão da indústria nacional, mas não se traduziu integralmente em inovação tecnológica interna, já que boa parte da P,D&I das empresas de serviços e fornecedores de soluções para o setor ainda ocorre fora do Brasil.

Isto é mais um motivo para a limitação na criação de empregos qualificados e restringe o surgimento de novas empresas nacionais, abrindo espaço para propostas que priorizem o desenvolvimento e a exportação de tecnologias localmente concebidas.

As Encomendas Tecnológicas (Etecs) são uma ferramenta estratégica para fomentar inovação em situações em que produtos e serviços ainda não estão disponíveis no mercado ou apresentam inviabilidade econômica.

Caracterizadas por alto risco tecnológico, as Etecs permitem a indução da inovação, como exemplificado pelas aquisições de vacinas durante a pandemia de Covid-19 ou sistemas complexos para as Forças Armadas.

No Brasil, uma das maiores utilizadoras de Etecs é a Petrobras em busca de soluções específicas. Inspiradas nesse conceito, as Plataformas Demonstradoras de Tecnologias (PDTs) despontam como uma política pública/privada capaz de estruturar o desenvolvimento tecnológico de forma integrada.

O setor aeronáutico oferece exemplos bem-sucedidos, como os programas Clean Sky na Europa, que mobilizam centenas de empresas, startups, universidades e centros de pesquisa em torno de plataformas de teste de tecnologias emergentes com objetivos e focos claros e bem definidos que são, em sua fase 2, a redução da pegada de carbono, emissão de gases e redução de ruído de aeronaves, sendo que todos os atores desenvolvem soluções e tecnologias com base em plataformas comuns.

Essas plataformas permitem acelerar a maturação tecnológica, ampliar a competitividade setorial e integrar diferentes atores da cadeia produtiva em uma agenda comum de inovação e desenvolvimento.

Dadas as especificidades do setor energético, e principalmente o de óleo e gás, brasileiro, a grande quantidade de problemas comuns a todas as operadoras, a criação de PDTs pode ser uma forma de acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias comuns a todo o setor.

Utilizando os recursos obrigatórios de P,D&I, essas plataformas favoreceriam a aproximação entre as operadoras, fornecedores, startups, universidades e órgãos governamentais, reduzindo riscos tecnológicos, racionalizando o investimento em torno de soluções e problemas comuns e fomentando o surgimento de deeptechs e hardtechs nacionais.

Ao permitir o desenvolvimento de soluções em condições operacionais reais, o setor se beneficiaria de maior eficiência, sustentabilidade e formação de talentos.

A presença de novos atores, especialmente deeptechs e hardtechs, no setor de Óleo e Gás brasileiro é crucial para encontrar soluções específicas para os cenários únicos observados no país.

Aliadas a universidades e centros de pesquisa, com demandas claras das empresas, e em um ecossistema que permita testar tecnologias em plataformas comuns, com suporte financeiro, técnico e de formação, isso se torna essencial para impulsionar a inovação e garantir soluções tecnológicas de alto impacto para a produção e exploração de petróleo e gás no Brasil.

Em conclusão, as Plataformas Demonstradoras de Tecnologia, já bem-sucedidas no setor aeroespacial, mostram-se um modelo promissor para o setor de Óleo e Gás brasileiro, focando em um ponto crucial que é a baixa materialização das pesquisas em produtos e a criação de startups. As PDTs serviriam como infraestrutura e hub para o desenvolvimento de novas empresas, empreendedores e soluções práticas, catalisando a inovação e o crescimento do setor.

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