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Biometano move descarbonização de gigantes da área de beleza
Primeiro posto exclusivo de biometano autorizado pela ANP viabiliza estratégia de longo prazo de grandes frotas em favor da descarbonização

A L’Oreal, maior empresa de beleza do mundo, tornou-se um marco no Brasil em um ramo totalmente diverso da sua área de operação. A empresa é a primeira a contar com um posto de abastecimento exclusivo do combustível, parte de um acordo firmado com a Gás Verde, uma das maiores produtoras de biometano da América Latina.
O posto da L’Oreal representa também um marco para a ampliação da utilização do biometano em caminhões, em substituição ao óleo diesel. A iniciativa vem ganhando espaços nas estratégias de descarbonização adotadas tanto por empresas como por transportadoras, alinhando-se ao movimento de transição energética que mobiliza o planeta. Também no ramo da beleza, a Natura alinhou o uso do biometano a sua imagem vinculada à sustentabilidade, promovendo também a substituição de caminhões a diesel pelos movidos pelo combustível verde.
O biometano apresenta entre os seus benefícios, quando comparado ao óleo diesel, a capacidade de reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O combustível renovável também reduz em 98% a emissão de material particulado, causa frequente de problemas respiratórios na população de grandes cidades.
De acordo com a Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (Abiogás), o potencial de produção de biometano no país é de atualmente 120 milhões de metros cúbicos por dia, o suficiente para assegurar a substituição de 60% da frota de caminhões a diesel do Brasil.
A L’Oreal aderiu ao uso de biometano em sua frota de caminhões em 2023, quando firmou um contrato de fornecimento de 3,6 milhões de metros cúbicos do gás com a Gás Verde. O contrato envolveu a instalação do posto de abastecimento ao lado do Centro de Distribuição Gaia, em Jarinu (SP), é o segundo maior do grupo na América Latina.
Conforme informou a L’Oreal na época, o gás renovável fornecido pela Gás Verde é produzido a partir do tratamento de resíduos sólidos urbanos provenientes do Aterro de Seropédica (RJ), o maior da América Latina. A iniciativa faz parte da meta da L’Oreal de reduzir em 50% as emissões de gases de efeito de estufa ligadas ao transporte, em comparação com 2016.
Frota Carbono Zero, da Gás Verde, com caminhões Scania a biometano, inclui garantia de abastecimento de combustível e plano de manutenção (Foto: Divulgação)
Em março desse ano, conforme informou a L’Oreal, já estava sendo utilizado em 80% das cargas diretas para o Estado de São Paulo e em 100% do transporte entre a fábrica da companhia e o seu centro de distribuição. A empresa calcula que houve uma redução de emissão de CO2eq de 2.200 toneladas na operação de transportes da empresa em 2025, em comparação com 2023. O Grupo L’Oréal tem como objetivo utilizar caminhões a biometano no transporte de 60% dos itens vendidos pela empresa até 2030.
O fornecimento para a L’Oreal inspirou a Gás Verde a desenvolver a Frota Carbono Zero, uma solução mais ampla para empresas e transportadoras que desejam descarbonizar suas operações logísticas, próprias ou terceirizadas. A solução envolve aluguel de caminhões Scania movidos a biometano, garantia de abastecimento do combustível e um plano de manutenção. “Atualmente, estamos em negociações avançadas com transportadoras e empresas para fechamento de contratos”, explica Marcel Jorand (foto), presidente da Gás Verde.
A companhia vislumbra grande potencial nesse nicho, considerando-se a dependência do transporte rodoviário do óleo diesel, em meio ao cenário de emergência climática em que o planeta se encontra. “O primeiro passo típico na jornada de descarbonização das empresas é focar em suas operações diretas. Mas, cada vez mais, grandes grupos estão voltando sua atenção para a cadeia de suprimentos, especialmente na área de logística de transporte. É justamente nesse ponto que o biometano se posiciona como uma solução estratégica”, disse Jorand.
L’Oreal já utiliza biometano em 80% das cargas diretas para o Estado de São Paulo e em 100% do transporte entre a fábrica da companhia e o seu centro de distribuição (Foto: Divulgação)
O executivo alinha aos benefícios do biometano a vantagem de ser uma produção 100% nacional, com a indexação ao IPCA, o que livra o combustível da imprevisibilidade das oscilações do câmbio e da necessidade de compra de créditos de carbono para atender metas ESG. “Podemos instalar pontos de abastecimento in company, o que garante autonomia e praticidade para a operação logística das empresas. Também oferecemos a opção de fornecimento exclusivo do biometano, seja para frotas próprias ou para abastecimento de transportadoras parceiras”, disse Jorand.
Estratégia na Natura
Desde maio do ano passado, circulam caminhões e carretas movidos a biometano que fazem o transporte inbound – responsável pela coleta e entrega de matérias-primas, insumos e produtos acabados – da Natura em São Paulo. A decisão de substituir gradualmente a frota de caminhões a óleo diesel pelo biometano faz parte da estratégia da companhia de tornar-se 100% regenerativa até 2050, conforme explicou Eduardo Sá, diretor de Supply Chain da Natura.
A descarbonização da frota inbound iniciou-se, no ano passado, com 20 veículos movidos a biometano, que realizavam aproximadamente 1.000 viagens por mês. A expectativa da empresa é ampliar a frota para 27 veículos, elevando o número de viagens mensais para 1.800.
Frota da Natura movida a biometano: combustível fornecido pela Ultragaz também abastecerá caldeiras, com meta de redução de 20% das emissões do complexo industrial (Foto: Divulgação)
O fornecimento do biometano é realizado por meio de uma parceria firmada com a Ultragaz. O acordo com a distribuidora de gás prevê a construção de uma central de armazenagem e distribuição para abastecer tanto a frota de caminhões de transporte de cargas, como as caldeiras da unidade da Natura em Cajamar (SP), dedicada à produção de cosméticos e fragrâncias.
Ao adotar o biometano em caldeiras e em sua operação logística, a Natura calcula que alcançará uma redução de 20% das emissões de carbono do complexo industrial.
O diretor de Supply Chain da Natura explica que as iniciativas já produziram resultados concretos em sustentabilidade e finanças. “Temos atualmente uma redução aproximada de 1.000 toneladas na emissão de carbono, com potencial de mais 500 toneladas com a expansão das rotas de abastecimento”.
E ele acrescenta que os resultados se devem tanto à substituição dos caminhões quanto à gestão eficiente da frota, mas tem restrições. “Embora o biometano seja promissor, a expansão da frota para outras regiões, além de São Paulo, é limitada pela infraestrutura existente. É vital investir na ampliação da rede de abastecimento e em corredores verdes, além de possíveis parcerias com outros players”.
Primeira autorização para um posto de biometano
O contrato firmado entre a Gás Verde e a L’Oreal motivou a primeira autorização da ANP para uma instalação de abastecimento de veículos exclusivamente com biometano. O processo de aprovação foi iniciado 10 meses antes, com a solicitação da Gás Verde de autorização excepcional, uma vez que não há regulamentação específica para o biometano.
A ANP informou que, mesmo sem a previsão em resolução, a autorização excepcional foi concedida por se tratar de um projeto importante para a diversificação da matriz energética veicular nacional. Conforme informou a agência, a Gás Verde já possuía autorização da ANP exercer a atividade de produção de biometano.
A ANP lembra ainda que o Decreto nº 10.712/2021 estabeleceu que o biometano e outros gases intercambiáveis com o gás natural contam com tratamento regulatório equivalente ao do gás natural, desde que atendidas as especificações estabelecidas pela agência.
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