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Paraná segue a rota do biometano no lugar do diesel
Maior produtor de proteínas animais do Brasil, o Paraná está se preparando para transformar o biometano produzido a partir de dejetos animais e resíduos agroindustriais em combustível para o transporte rodoviário no estado

Em fevereiro, o Governo do Estado, em conjunto com entidades do agronegócio e do transporte rodoviário, lançou a semente do Projeto Corredores Rodoviários Sustentáveis do Paraná, com o objetivo de substituir o óleo diesel por gás natural veicular (GNV) ou biometano, ou a mistura dos dois gases, nas principais vias de escoamento da produção agropecuária do Estado, bem como nas estradas que fazem a interligação das áreas produtoras com os municípios do interior paranaense, batizadas de microcorredores.
O projeto é ambicioso, conforme explica Herlon Goelzer de Almeida (foto), coordenador do programa de Energias Renováveis Sustentáveis do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR - Paraná), órgão da Secretaria de Agricultura do Estado. O programa tem como meta abranger com os corredores 4.586 quilômetros de rodovias estaduais e federais, por onde circulam 80% do transporte de cargas no estado.
Essa rede também interliga diretamente 147 municípios, além de outras 159 cidades localizadas em um raio de 20 quilômetros de distância dos corredores. O projeto também inclui as estradas vicinais, que conectam as propriedades rurais aos municípios, batizadas de microcorredores.
A expectativa é utilizar o biometano tanto por meio da injeção na rede da Compagás, a concessionária de gás canalizada do Paraná, atendendo à rede de postos que oferecem o GNV, quanto oferecer o biocombustível diretamente para os caminhões nas propriedades rurais ou em postos revendedores das cidades abrangidas.
Nas áreas atendidas pela Compagás, mais próximas do litoral, que já compreendem Paranaguá, Curitiba e Ponta Grossa e deverão incluir Londrina e Maringá até 2030, a expectativa é que o diesel seja substituído pelo GNV, isoladamente ou misturado ao biometano. Entre Paranaguá e Londrina, já estão em funcionamento 11 postos de abastecimento de veículos leves e pesados movidos a gás. E novos postos deverão ser implantados neste ano, segundo informações do governo paranaense.
Nas demais regiões do Estado, que tão cedo não deverão ser alcançadas pela rede de gás canalizado, a ideia é promover o biometano como alternativa. Almeida lembra que existe um volume de trânsito de caminhões enorme entre as propriedades rurais e os municípios, que levam insumos e materiais para os produtores rurais e trazem a produção na viagem de volta.
Trecho entre Paranaguá e Londrina já tem 11 postos de abastecimento de veículos leves e pesados movidos a gás (Foto: Compagas)
“Para o alcance do Oeste, Sudoeste, Centro e Noroeste, será importante a conversão de frotas diesel para gás e biometano, criando demanda que viabilize a infraestrutura de postos e de produção local”, disse Almeida. “As novas rotas devem respeitar as demandas, permitindo implantar redes isoladas e a criação de novos polos de consumo”.
O projeto é movido por objetivos de ordem ambiental e econômica. Um dos objetivos do governo paranaense é contribuir para promover a descarbonização do transporte rodoviário de cargas.
Produzido a partir do biogás gerado pelos rejeitos da suinocultura e avicultura principalmente, o biometano proporciona uma redução de 95% das emissões de dióxido de carbono na atmosfera, em comparação com o óleo diesel. Além disso, evita a emissão do metano produzido a partir das fezes dos animais, normalmente depositado nas propriedades rurais, que tem um impacto mais nocivo do que o CO2 para o aquecimento global.
Outro benefício considerado é oferecer uma destinação apropriada para os dejetos dos animais, que, uma vez acumulados, podem contaminar o solo e os aquíferos. O Governo do Paraná pretende, com este projeto, preparar-se para o crescimento da demanda mundial por proteína animal. “Para que a produção de proteínas animais continue crescendo no estado é preciso tratar os dejetos das criações”, lembra Almeida.
Ao conciliar interesses dos produtores rurais com os transportadores, há também a expectativa de se criar um círculo virtuoso, com o compartilhamento de benefícios. O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do país, com uma produção de 12 milhões de cabeças por ano, ficando atrás apenas de Santa Catarina.
Usina de biogás em Ouro Verde do Oeste utiliza dejetos da suinocultura para produzir energia elétrica (Foto: Geraldo Bubniak/AEN)
O Estado já conta com cerca de 600 plantas de biogás, das aproximadamente 1.500 existentes no país, segundo dados do governo paranaense. Para os produtores rurais, o projeto pode criar uma demanda que contribua para a adoção de usinas de tratamento de dejetos, resolvendo um passivo ambiental e proporcionando uma nova fonte de renda.
Além disso, do processo de produção do biometano sobra também o biofertilizante, que pode ser utilizado pelo produtor ou ser comercializado.
Para os transportadores, o uso do biometano pode contribuir para tornar mais eficiente o transporte, além de oferecer a oportunidade de descarbonização da atividade e, de quebra, criar uma alternativa para o diesel, sujeito aos humores do mercado internacional do petróleo.
Segundo Almeida, desde fevereiro, quando foi assinado um termo de compromisso, as Secretarias de Agricultura e de Planejamento do Estado, a Compagas, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar) estão realizando o levantamento de informações que alimentarão uma matriz de ações, a ser utilizada como base para o planejamento de medidas a serem adotadas pelo programa.
Entre as ações que deverão ser adotadas está o financiamento da conversão de caminhões a diesel para o gás veicular e biometano. A expectativa é utilizar, para isso, recursos do Fundo Clima do BNDES. O projeto deverá envolver também a melhoria das condições dos microcorredores, com alargamento e recapeamento das estradas e modernização de pontes.
A expectativa do governo paranaense é que os corredores e microcorredores estejam operando plenamente em um prazo de 15 anos.
Toledo sedia fornecimento pioneiro
Considerado o maior produtor de suínos do país, o município de Toledo já está se adiantando na viabilização do uso de biometano para o transporte de cargas em microcorredores. Com cerca de mil produtores de suínos e um rebanho de quase 900 mil cabeças, o município já registra uma primeira iniciativa pioneira envolvendo a produção de biometano por um suinocultor e o fornecimento do biocombustível a uma transportadora.
Emilio Angst, que vinha enfrentando dificuldades para ampliar a sua produção de suínos em sua propriedade de 3 hectares, instalou uma planta de tratamento do biogás em sua propriedade e está abastecendo caminhões da Cooperativa Primato, da qual é associado.
Usina pioneira de biometano do suinocultor Emilio Angst, em Toledo (PR), fornece o biocombustível para caminhões da Cooperativa Primato e permitiu ampliar criação de suínos (Foto: Divulgação)
Até então, as limitações para a deposição dos dejetos na propriedade impediam a obtenção do licenciamento ambiental para ampliar a produção de suínos. Parte dos dejetos produzidos pela sua criação tinha de ser encaminhada para outras localidades, o que resultava em um custo para o produtor.
Com a instalação da planta e a possibilidade de tratamento dos dejetos, a propriedade recebeu uma licença para aumentar a produção de 1,7 mil para 7,8 mil cabeças. Com a criação ampliada, o suinocultor espera multiplicar por 3 a sua renda bruta, o que permitirá quitar o financiamento obtido para a instalação da planta em até cinco anos. Com o melhor aproveitamento da área da propriedade, Angst ampliou ainda o seu plantel de vacas leiteiras de 28 para 100 cabeças e prevê ainda introduzir a piscicultura na propriedade.
De acordo com o vice-presidente da Associação Regional de Suinocultores de Toledo (Assuinoeste Toledo), Edson Pacheco (foto), o exemplo dos benefícios obtidos na propriedade de Emilio Angst deverá incentivar outros suinocultores a adotarem o mesmo caminho.
“Ainda temos muitos produtores que veem somente os custos do tratamento dos dejetos e não veem os benefícios que a iniciativa pode proporcionar”, disse Pacheco. Ele acredita que, com os benefícios anunciados e com uma linha de financiamento para a instalação de biodigestores, oferecida pelo Governo do Estado, deverá ocorrer maior adesão.
A Assuinoeste Toledo e o Sindicato dos Transportadores de Toledo (Sintratol) assinaram um memorando de entendimentos para implantação do Programa Toledo em Movimento, que tem como objetivo viabilizar a utilização do biometano em substituição ao óleo diesel no transporte rodoviário de carga.
“Os primeiros testes com o biometano foram muito positivos, o que está despertando o interesse dos empresários do setor de transporte pela conversão dos seus veículos”, disse Pacheco. Para investir na conversão, contudo, eles querem ter a certeza de que haverá a oferta do biocombustível.
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