Opinião

Data Centers: Oportunidades e Desafios para o Setor Energético

O Brasil desponta como fronteira promissora na rota dos grandes data centers. Projetos anuais, antes estimados em US$ 3,5 bilhões até 2030, foram revisados para US$ 6,5 bilhões, reflexo da forte demanda

Por Wagner Victer

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Desde a era dos servidores modestos que ficavam no canto dos escritórios, os data centers passaram nos últimos anos por uma transformação que muitos nem perceberam. Mais do que simples depósitos de equipamentos, tornaram-se os “corações” pulsantes da nova economia digital, armazenando fotos, mensagens e dando vida a aplicações da nova onda de  "inteligência artificial" 24 horas por dia.

Há duas décadas, cada empresa mantinha seus próprios servidores em salas internas ou pequenos data centers corporativos. Esse modelo descentralizado cedeu lugar, à medida que a computação online começou a requerer  grandes instalações terceirizadas que oferecem escala, segurança e resiliência superiores. Atualmente os arranjos com data centers internos representam apenas cerca de 10% da carga global de TI, enquanto ambientes de hiperescala somam entre 60% e 70% do processamento total.

Em quatro anos, o número de data centers de hiperescala dobrou, chegando a aproximadamente 1.000 unidades no início de 2024, com os Estados Unidos abrigando mais da metade dessa capacidade. Nessa escalada, os gigantes Amazon, Microsoft e Google respondem por cerca de 60% desses megacentros, espelhando o domínio dos provedores de nuvem na infraestrutura global.

O crescimento exponencial dos data centers elevou seu consumo a cerca de 415 TWh anuais - cerca de 1,5% do consumo elétrico mundial -, com taxa média de crescimento de 12% ao ano na última meia década. Nos Estados Unidos, esses centros já são responsáveis por 4,4% do uso elétrico nacional (aprox. 176 TWh em 2023), o equivalente a mais de 4 kWh de cada 100 kWh gerados.

Projeções indicam que o consumo global pode quase dobrar até 2030, alcançando 945 TWh (quase 3% do total estimado), e chegar a representar até 10% da demanda elétrica dos EUA na próxima década, impulsionado principalmente pelo surgimento de aplicações de inteligência artificial, que exigem racks de alta densidade energética, já que usam placas de vídeo de alto desempenho.

Nesse cenário de crescimento, o impacto ambiental e busca por eficiência viram desafios e oportunidades

O alto consumo de eletricidade, quando oriundo de fontes fósseis, em algumas localidades pode ser traduzido em emissões relevantes de CO₂. Só nos EUA, os data centers emitiram cerca de 105 milhões de toneladas de CO₂ em 2024, equivalentes a cerca de 2% das emissões totais do país, representando um crescimento de 300% desde 2018.

Além disso, o uso intensivo de água para resfriamento em grandes instalações pressiona os recursos hídricos locais, destacando que sistemas de ar condicionado chegam a consumir entre 30 e 40% da energia de um data center típico.

Em resposta a essa demanda o setor busca  investir em três frentes principais:

1. Localização estratégica em regiões com energia renovável abundante (hidrelétricas, parques eólicos e solares), e com margem disponível na rede de transmissão local;

2. Geração própria de energia, por meio de painéis solares, associadas a sistemas de armazenamento com baterias e a turbinas instaladas nas dependências;

3. Otimização da eficiência, adotando refrigeração avançada (imersão líquida, resfriamento a ar) e hardware de baixo consumo.

Mas apesar de ganhos expressivos na última década, a curva de demanda por computação continua bem acima da evolução de eficiência, mantendo o consumo total em ascensão.

No mercado e economia global o setor de data centers movimentou cerca de US$ 348 bilhões em 2024, com previsão de ultrapassar US$ 600 bilhões até 2030. Os  EUA  respondem  por 40 % deste mercado - US$ 121 bilhões em 2024 -, impulsionada por grandes investimentos dos provedores de hiperescala.

Atualmente, há pelo menos no mundo 440 projetos de grande porte em fases diversas de planejamento ou construção e são inaugurados em média 120 novos data centers de hiperescala ao ano. A atividade gera empregos diretos e indiretos: nos EUA, cerca de 500 mil profissionais trabalham em data centers e, por exemplo, estados como a Virgínia veem um impacto econômico anual da ordem de US$ 9,1 bilhões.

Nesse cenário, o Brasil desponta como fronteira promissora na rota dos grandes data centers. Com 580 MW de capacidade instalada em 2024 (soma-se a isso mais 30% com refrigeração) e com previsão de ultrapassar 2 GW até 2029, o país atrai investimentos de operadores globais e locais. Projetos anuais, antes estimados em US$ 3,5 bilhões até 2030, foram revisados para US$ 6,5 bilhões, reflexo da forte demanda.

A receita do setor - US$ 1,3 bilhão em 2023 - pode chegar a US$ 2 bilhões em 2027. A matriz elétrica brasileira , com 60% de geração hidrelétrica, e a presença de múltiplos cabos submarinos em Fortaleza, conferem ao Brasil vantagens de sustentabilidade e conectividade.

Todavia, desafios persistem, como os custos elevados de importação de equipamentos, que estão sendo hoje discutidos no âmbito da MP Redata, burocracia para licenciamento (até 18 meses), definição de conectividade elétrica e até a competição regional com Chile e Colômbia. Mesmo assim, apenas 15% das empresas nacionais migraram seus servidores para provedores profissionais, sinalizando grande espaço de crescimento.

Dos servidores de porão aos gigantes de hiperescala, os data centers evoluíram para pilares estratégicos da era digital. Seu papel expande-se tanto em capacidade quanto em relevância econômica e ambiental.

Com investimentos em eficiência e energias limpas, que é a marca de nossa matriz, esses  novos mercados novos se colocam como grandes oportunidades. Aliás, os principais órgãos de planejamento do setor energético brasileiro, como a EPE, além de um conjunto de estados e municípios já buscam identificar as melhores  condições ambientais e geoelétricas para atrair essa nova onda empreendedora diferenciada para sua região.

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